terça-feira, 31 de dezembro de 2013

1 Janeiro 2014: Dia Mundial da Paz - "Fraternidade, fundamento e caminho para a paz".


FRATERNIDADE, FUNDAMENTO E CAMINHO PARA A PAZ – é o tema do Dia Mundial da Paz 2014, que a Igreja promove e celebra a 1 de Janeiro. Na sua primeira Mensagem para esta ocasião, Papa Francisco começa por recordar que “no coração de cada homem e mulher habita o anseio duma vida plena que contém uma aspiração irreprimível de fraternidade, impelindo à comunhão com os outros, em quem não encontramos inimigos ou concorrentes, mas irmãos que devemos acolher e abraçar.”
“Na realidade (logo observa o Papa, alargando o horizonte, de modo inclusivo), a fraternidade é uma dimensão essencial do homem… A consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura.”Sublinhando que “a família é a fonte de toda a fraternidade… o fundamento e o caminho primário para a paz”, a Mensagem papal chama a atenção para o facto de o número sempre crescente de ligações e comunicações tornar hoje em dia mais palpável a consciência da unidade e partilha dum destino comum. “Nos dinamismos da história – independentemente da diversidade das etnias, das sociedades e das culturas –, vemos semeada a vocação a formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros”. Vocação esta, infelizmente, “muitas vezes contrastada e negada nos factos, num mundo caracterizado pela «globalização da indiferença» que lentamente nos faz «habituar» ao sofrimento alheio, fechando-nos em nós mesmos”.
“Em muitas partes do mundo, parece não conhecer tréguas a grave lesão dos direitos humanos fundamentais, sobretudo dos direitos à vida e à liberdade de religião… Às guerras feitas de confrontos armados juntam-se guerras menos visíveis, mas não menos cruéis, que se combatem nos campos económico e financeiro com meios igualmente demolidores de vidas, de famílias, de empresas.”Como justamente lembrou Bento XVI, “a globalização torna-nos vizinhos, mas não nos faz irmãos.” As inúmeras situações de desigualdade, pobreza e injustiça indicam não só uma profunda carência de fraternidade, mas também a ausência duma cultura de solidariedade. As novas ideologias, caracterizadas por generalizado individualismo, egocentrismo e consumismo materialista, debilitam os laços sociais, alimentando aquela mentalidade do «descartável» que induz ao desprezo e abandono dos mais fracos, daqueles que são considerados «inúteis».
Aliás – observa ainda a Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz - as éticas contemporâneas mostram-se incapazes de produzir autênticos vínculos de fraternidade, por falta de referência a um Pai comum como seu fundamento último: uma verdadeira fraternidade entre os homens supõe e exige uma paternidade transcendente. É a partir do reconhecimento desta paternidade que se consolida a fraternidade entre os homens - aquele fazer-se «próximo» para cuidar do outro.
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Para compreender melhor a vocação do homem à fraternidade, reconhecer os obstáculos que se interpõem à sua realização e identificar as vias para a superação dos mesmos, Papa Francisco convida a deixar-se guiar pelo conhecimento do desígnio de Deus, tal como se apresenta na Sagrada Escritura. E comenta o episódio de Abel e Caim, no Livro do Génesis (cap. 4), na certeza que “na história desta família primigénia, lemos a origem da sociedade, a evolução das relações entre as pessoas e os povos”.
“Abel é pastor, Caim agricultor. A sua identidade profunda e, conjuntamente, a sua vocação é ser irmãos, embora na diversidade da sua actividade e cultura, da sua maneira de se relacionarem com Deus e com a criação. Mas o assassinato de Abel por Caim atesta, tragicamente, a rejeição radical da vocação a ser irmãos. A sua história põe em evidência o difícil dever, a que todos os homens são chamados, de viver juntos, cuidando uns dos outros.”“À pergunta com que Deus interpela Caim – «onde está o teu irmão?» –, pedindo-lhe contas da sua acção, responde: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» Depois – diz-nos o livro do Génesis –, «Caim afastou-se da presença do Senhor». É preciso interrogar-se sobre os motivos profundos que induziram Caim a ignorar o vínculo de fraternidade e, simultaneamente, o vínculo de reciprocidade e comunhão que o ligavam ao seu irmão Abel – sugere o Papa.
A narração de Caim e Abel ensina que a humanidade traz inscrita em si mesma uma vocação à fraternidade, mas também a possibilidade dramática da sua traição. Disso mesmo dá testemunho o egoísmo diário, que está na base de muitas guerras e injustiças: na realidade, muitos homens e mulheres morrem pela mão de irmãos e irmãs que não sabem reconhecer-se como tais, isto é, como seres feitos para a reciprocidade, a comunhão e a doação.


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“Surge espontaneamente a pergunta: poderão um dia os homens e as mulheres deste mundo corresponder plenamente ao anseio de fraternidade, gravado neles por Deus Pai? Conseguirão, meramente com as suas forças, vencer a indiferença, o egoísmo e o ódio, aceitar as legítimas diferenças que caracterizam os irmãos e as irmãs?Parafraseando as palavras do Senhor Jesus, poderemos sintetizar assim a resposta que Ele nos dá: dado que há um só Pai, que é Deus, vós sois todos irmãos (cf. Mt 23, 8-9). A raiz da fraternidade está contida na paternidade de Deus. Não se trata de uma paternidade genérica, indistinta e historicamente ineficaz, mas do amor pessoal, solícito e extraordinariamente concreto de Deus por cada um dos homens (cf. Mt 6, 25-30)… uma paternidade eficazmente geradora de fraternidade, porque o amor de Deus, quando é acolhido, torna-se no mais admirável agente de transformação da vida e das relações com o outro, abrindo os seres humanos à solidariedade e à partilha activa.
Em particular, a fraternidade humana foi regenerada em e por Jesus Cristo, com a sua morte e ressurreição. A cruz é o «lugar» definitivo de fundação da fraternidade que os homens, por si sós, não são capazes de gerar …
Jesus retoma o projecto inicial do Pai, reconhecendo-Lhe a primazia sobre todas as coisas. Mas Cristo, com o seu abandono até à morte por amor do Pai, torna-Se princípio novo e definitivo de todos nós, chamados a reconhecer-nos n’Ele como irmãos, porque filhos do mesmo Pai… Na morte de Jesus na cruz, ficou superada também a separação entre os povos, entre o povo da Aliança e o povo dos Gentios… Jesus Cristo é Aquele que reconcilia em Si todos os homens. Ele é a paz… Criou em Si mesmo um só povo, um só homem novo, uma só humanidade nova.O homem reconciliado vê, em Deus, o Pai de todos e, consequentemente, é solicitado a viver uma fraternidade aberta a todos. Em Cristo, o outro é acolhido e amado como filho ou filha de Deus, como irmão ou irmã, e não como um estranho, menos ainda como um antagonista ou até um inimigo. Na família de Deus, onde todos são filhos dum mesmo Pai e, porque enxertados em Cristo, filhos no Filho, não há «vidas descartáveis». Todos gozam de igual e inviolável dignidade; todos são amados por Deus, todos foram resgatados pelo sangue de Cristo… Esta é a razão pela qual não se pode ficar indiferente perante a sorte dos irmãos.
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Posto isto, é fácil compreender que a fraternidade é fundamento e caminho para a paz… Basta ver as definições de paz da “Populorum progressio”, de Paulo VI, ou da “Sollicitudo rei socialis”, de João Paulo II: “o desenvolvimento integral dos povos é o novo nome da paz” [Paulo VI]; “a paz é fruto da solidariedade”[João Paulo II].
Paulo VI afirma que tanto as pessoas como as nações se devem encontrar num espírito de fraternidade. E explica: «Nesta compreensão e amizade mútuas, nesta comunhão sagrada, devemos... trabalhar juntos para construir o futuro comum da humanidade. Este dever recai primariamente sobre os mais favorecidos. As suas obrigações radicam-se na fraternidade humana e sobrenatural, apresentando-se sob um tríplice aspecto: o dever de solidariedade, que exige que as nações ricas ajudem as menos avançadas; o dever de justiça social, que requer a reformulação em termos mais correctos das relações defeituosas entre povos fortes e povos fracos; o dever de caridade universal, que implica a promoção de um mundo mais humano para todos, um mundo onde todos tenham qualquer coisa a dar e a receber, sem que o progresso de uns seja obstáculo ao desenvolvimento dos outros.A paz, afirma João Paulo II, é um bem indivisível: ou é bem de todos, ou não o é de ninguém. Na realidade, a paz só pode ser conquistada e usufruída como melhor qualidade de vida e como desenvolvimento mais humano e sustentável, se estiver viva, em todos, «a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum». Isto implica não deixar-se guiar pela «avidez do lucro» e pela «sede do poder». É preciso estar pronto a «“perder-se” em benefício do próximo em vez de o explorar, e a “servi-lo” em vez de o oprimir para proveito próprio (...). O “outro” – pessoa, povo ou nação – [não deve ser visto] como um instrumento qualquer, de que se explora, a baixo preço, a capacidade de trabalhar e a resistência física, para o abandonar quando já não serve; mas sim como um nosso “semelhante”, um “auxílio”».
A solidariedade cristã pressupõe que o próximo seja amado não só como «um ser humano com os seus direitos e a sua igualdade fundamental em relação a todos os demais, mas [como] a imagem viva de Deus Pai, resgatada pelo sangue de Jesus Cristo e tornada objecto da acção permanente do Espírito Santo», como um irmão.


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Falando depois da fraternidade como premissa para vencer a pobreza, escreve o Papa Francisco: “assistimos, preocupados, ao crescimento de diferentes tipos de carências, marginalização, solidão e de várias formas de dependência patológica. Uma tal pobreza só pode ser superada através da redescoberta e valorização de relações fraternas no seio das famílias e das comunidades, através da partilha das alegrias e tristezas, das dificuldades e sucessos presentes na vida das pessoas.”Perante “um grave aumento da pobreza relativa, isto é, de desigualdades entre pessoas e grupos que convivem numa região específica ou num determinado contexto histórico-cultural”, a Mensagem solicita “políticas eficazes que promovam o princípio da fraternidade, garantindo às pessoas – iguais em dignidade e nos direitos fundamentais – acesso aos «capitais», aos serviços, aos recursos educativos, sanitários e tecnológicos.
Sente-se também a necessidade “políticas que sirvam para atenuar a excessiva desigualdade de rendimento”. Não se esqueça o ensinamento da Igreja sobre a chamada hipoteca social: se é lícito – como diz São Tomás de Aquino – e mesmo necessário que «o homem tenha a propriedade dos bens», quanto ao uso, porém, «não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si mas também aos outros». Para promover a fraternidade e vencer a pobreza, o Papa refere “o desapego vivido por quem escolhe estilos de vida sóbrios e essenciais, por quem, partilhando as suas riquezas, consegue assim experimentar a comunhão fraterna com os outros. Isto é fundamental para seguir Jesus Cristo e ser verdadeiramente cristão. É o caso não só das pessoas consagradas que professam voto de pobreza, mas também de muitas famílias e tantos cidadãos responsáveis que acreditam firmemente que a relação fraterna com o próximo constitua o bem mais precioso.
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Nesta mesma ordem de ideias, a Mensagem para o Dia Mundial da Paz sugere… que se redescubra a fraternidade na vida económica e financeira. Escreve o Papa:
“As graves crises financeiras e económicas dos nossos dias – que têm a sua origem no progressivo afastamento do homem de Deus e do próximo, com a ambição desmedida de bens materiais, por um lado, e o empobrecimento das relações interpessoais e comunitárias, por outro – impeliram muitas pessoas a buscar o bem-estar, a felicidade e a segurança no consumo e no lucro fora de toda a lógica duma economia saudável. Já em 1979 o Papa João Paulo II alertava para a existência de «um real e perceptível perigo de que, enquanto progride enormemente o domínio do homem sobre o mundo das coisas, ele perca os fios essenciais deste seu domínio e, de diversas maneiras, submeta a elas a sua humanidade, e ele próprio se torne objecto de multiforme manipulação, se bem que muitas vezes não directamente perceptível; manipulação através de toda a organização da vida comunitária, mediante o sistema de produção e por meio de pressões dos meios de comunicação social».As sucessivas crises económicas devem levar a repensar adequadamente os modelos de desenvolvimento económico e a mudar os estilos de vida. A crise actual, com pesadas consequências na vida das pessoas, pode ser também uma ocasião propícia para recuperar as virtudes da prudência, temperança, justiça e fortaleza. Elas podem ajudar-nos a superar os momentos difíceis e a redescobrir os laços fraternos que nos unem uns aos outros, com a confiança profunda de que o homem tem necessidade e é capaz de algo mais do que a maximização do próprio lucro individual.
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Na sua última parte, a Mensagem recorda as guerras em curso, que são sempre – recorda o Papa - “uma grave e profunda ferida infligida à fraternidade”. Escreve Francisco:
“Há muitos conflitos que se consumam na indiferença geral. A todos aqueles que vivem em terras onde as armas impõem terror e destruição, asseguro a minha solidariedade pessoal e a de toda a Igreja. Esta tem por missão levar o amor de Cristo também às vítimas indefesas das guerras esquecidas, através da oração pela paz, do serviço aos feridos, aos famintos, aos refugiados, aos deslocados e a quantos vivem no terror. De igual modo a Igreja levanta a sua voz para fazer chegar aos responsáveis o grito de dor desta humanidade atribulada e fazer cessar, juntamente com as hostilidades, todo o abuso e violação dos direitos fundamentais do homem. “Por este motivo, desejo dirigir um forte apelo a quantos semeiam violência e morte, com as armas: naquele que hoje considerais apenas um inimigo a abater, redescobri o vosso irmão e detende a vossa mão! Renunciai à via das armas e ide ao encontro do outro com o diálogo, o perdão e a reconciliação para reconstruir a justiça, a confiança e esperança ao vosso redor!
“Enquanto houver em circulação uma quantidade tão grande como a actual de armamentos, poder-se-á sempre encontrar novos pretextos para iniciar as hostilidades. Por isso, faço meu o apelo lançado pelos meus Predecessores a favor da não-proliferação das armas e do desarmamento por parte de todos, a começar pelo desarmamento nuclear e químico.“Em todo o caso (acrescenta ainda o Papa), não podemos deixar de constatar que os acordos internacionais e as leis nacionais, embora sendo necessários e altamente desejáveis, por si sós não bastam para preservar a humanidade do risco de conflitos armados. É precisa uma conversão do coração que permita a cada um reconhecer no outro um irmão do qual cuidar e com o qual trabalhar para, juntos, construírem uma vida em plenitude para todos.
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A Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz 2014 conclui recordando que, se é preciso descobrir, amar, experimentar, anunciar e testemunhar a fraternidade, contudo “só o amor dado por Deus nos permite acolher e viver plenamente a fraternidade”.
“O necessário realismo da política e da economia não pode reduzir-se a um tecnicismo sem ideal, que ignora a dimensão transcendente do homem. Quando falta esta abertura a Deus, toda a actividade humana se torna mais pobre, e as pessoas são reduzidas a objecto passível de exploração. Somente se a política e a economia aceitarem mover-se no amplo espaço assegurado por esta abertura Àquele que ama todo o homem e mulher, é que conseguirão estruturar-se com base num verdadeiro espírito de caridade fraterna e poderão ser instrumento eficaz de desenvolvimento humano integral e de paz.“Nós, cristãos, acreditamos que, na Igreja, somos membros uns dos outros e todos mutuamente necessários… Isto implica tecer um relacionamento fraterno, caracterizado pela reciprocidade, pelo perdão, pelo dom total de si mesmo, segundo a grandeza e a profundidade do amor de Deus, oferecido à humanidade por Aquele que, crucificado e ressuscitado, atrai todos a Si: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».
Cristo abraça todo o ser humano e deseja que ninguém se perca. «Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele». «O que for maior entre vós seja como o menor, e aquele que mandar, como aquele que serve – diz Jesus Cristo –. Eu estou no meio de vós como aquele que serve». Deste modo, cada actividade deve ser caracterizada por uma atitude de serviço às pessoas, incluindo as mais distantes e desconhecidas. O serviço é a alma da fraternidade que edifica a paz.


Fonte http://www.news.va/pt/news/1-janeiro-2014-dia-mundial-da-paz-fraternidade-fun

Feliz ano novo com Cristo!

Mais um ano chega ao fim. Ano de conquistas e mudanças. Ano de vitórias e alegrias. Ano de renovação física e espiritual. Tivemos a chegada do nosso padre Fabio Santos que começou a deixar suas marcas em nossa Igreja e nossa vida. Sem esquecer da bela contribuição do nosso querido padre Cosmo. Nesses últimos meses vimos e vivemos uma igreja nova, em mudança... torre, sino, altar, material litúrgico... tantas coisas novas, bunitas, e gostosas de se ver. 
Como disse nosso padre domingo passado: "A missa está bunita, a Igreja está cada vez melhor, para celebramos o mistério da encarnação-morte-ressurreição de Cristo". A liturgia está mesmo linda! Que em 2014 possamos crescer mais. Que a estrutura física da igreja nos faça mergulhar em Cristo e nos permita reformar nosso coração, que as vezes bate frio, sem vida, um coração de pedra... Jesus, manda teu Espírito!!! Feliz ano novo em Cristo!














































quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Mensagem de Natal do Arcebispo

Brasão_Dom_Saburido

A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação com a carne dos outros. Na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura. 
Papa Francisco, na exortação apostólica “A alegria do Evangelho”, n. 88

Queridos irmãos e irmãs,
Sem dúvida, a novidade desse Natal de 2013, para nós e para toda a Igreja Católica, é a voz profética do papa Francisco. Na exortação apostólica Evangelii Gaudium, ele atualiza para nós as palavras do anjo aos pastores de Belém: “Eu vos anuncio uma grande alegria” (cf. Lc 2,10). O papa retoma o anúncio do Natal, não como repetição do nascimento de Jesus e, sim, como atualização da sua vinda entre nós, a trazer-nos o seu reino de alegria, justiça e paz, em meio às contradições do mundo. Para nós, a memória do nascimento de Jesus, em Belém, deve nos levar a um novo nascimento pascal, em nosso caminho de conversão cotidiana. Infelizmente, muitos cristãos transformaram essa dimensão de Advento do Reino apenas em uma celebração sentimental do Natal, como se se tratasse de uma repetição do nascimento de Jesus. Enzo Bianchi, prior do Mosteiro de Bose (Itália), chama isso de “ingênua regressão devota que empobrece a esperança cristã”.
Ao contrário, o papa Francisco nos convida a vivermos hoje a espiritualidade do Natal, assumindo a humanidade como Jesus. Convida-nos a nos abrir, cada vez mais, a todas as pessoas que encontramos e a elas manifestar, pelo nosso modo de ser, “a bondade e a simpatia do nosso Deus” (Tito 3, 3-7). Para isso, temos de dar o testemunho de uma Igreja mais simples, pobre e verdadeiramente “em saída”. Desde que nasceu, Jesus viveu o que o Novo Testamento chama de kénosis (esvaziamento de si mesmo). Fez-se pobre e pequeno, até a morte e morte de Cruz (cf. Fl 2,5ss).
A nossa arquidiocese é chamada a retomar sua história de Igreja em missão, especialmente a partir dos pequeninos e a inserir-se nos problemas sociais e humanos de nossa realidade. Nesse Natal, como pastor da Igreja de Olinda e Recife, renovo o meu compromisso de servir a todos vocês, como “irmão e companheiro nas aflições e no testemunho do reino” (Ap 1,9).
Comprometo-me a sempre mais manifestar o jeito de irmão e servidor junto com vocês todos/as, mais do que o de chefe e líder da porção do povo de Deus a nós confiado. Contem comigo, para animá-los nos momentos de desânimo, confortá-los nas dificuldades e encorajá-los no caminho do reino. Que, nesse Natal, as pessoas possam ver que, realmente, o Verbo se fez carne pelo fato de que nós, padres, diáconos, religiosos/as e todos os cristãos, nos tornamos pessoas tão verdadeiramente impregnadas de humanidade que só mesmo sendo cheios/as da presença divina. Feliz Natal e próspero Ano Novo para todos vocês.
Dom Antônio Fernando Saburido, OSB
Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife

A humildade nos torna fecundos, a soberba estéreis!


Cidade do Vaticano (RV) - “A humildade é necessária para a fecundidade”. Foi o que destacou o Papa Francisco na Missa desta manhã de quinta-feira, na Casa Santa Marta. O Santo Padre afirmou que a intervenção de Deus vence a esterilidade da nossa vida e a torna fecunda. Em seguida, chamou a atenção para o comportamento de soberba que nos tornam estéreis.
Tantas vezes, na Bíblia, encontramos mulheres estéreis às quais o Senhor dá o dom da vida. Francisco iniciou assim a sua homilia comentando as leituras do dia e especialmente o Evangelho de hoje que fala de Isabel que era estéril e que teve um filho, João. “A partir da impossibilidade de dar vida - constatou o Papa - vem a vida”. E isso, prosseguiu, também “aconteceu não a mulheres estéreis”, mas que “não tinham esperança de vida”, como Noemi que acabou tendo um neto:
“O Senhor intervém na vida dessas mulheres para nos dizer: ‘Eu sou capaz de dar vida’. Também nos Profetas há a imagem do deserto, a terra deserta incapaz de fazer crescer uma árvore, uma fruta, de fazer brotar alguma coisa. ‘Mas o deserto será como uma floresta - dizem os profetas - será grande, florescerá’. Mas o deserto pode florescer? Sim. A mulher estéril pode dar à luz? Sim. A promessa do Senhor: Eu posso! Eu posso da secura, da secura de vocês, fazer crescer a vida, a salvação! Eu posso da aridez fazer crescer os frutos!”
E a salvação, afirmou o Papa Francisco, é isso: “É a intervenção de Deus que nos torna fecundos, que nos dá a capacidade de dar vida”. Nós, advertiu o Santo Padre, “não podemos fazer isso sozinhos”. Mesmo assim, acrescentou, “muitos provaram pensar na nossa capacidade de se salvar”.
“Até mesmo os cristãos, hein! Pensemos nos pelagianos, por exemplo. (segundo os pelagianos, o homem era totalmente responsável por sua própria salvação e minimizava o papel da graça divina). Tudo é graça. É a intervenção de Deus que traz a salvação. É a intervenção de Deus que nos ajuda no caminho da santidade. Somente Ele pode. Mas, nós o que fazemos? Em primeiro lugar: devemos reconhecer a nossa secura, a nossa incapacidade de dar vida. Reconhecer isso. Em segundo lugar, pedir: “Senhor, eu quero ser fecundo. Eu quero que a minha vida dê vida, que a minha fé seja fecunda e vá avante e possa transmiti-la aos outros’. 'Senhor, eu sou estéril, eu não posso, Tu podes. “Eu sou um deserto: eu não posso, Tu podes’”.
E essa, acrescentou, pode ser precisamente a oração destes dias antes do Natal. “Pensemos - observou – a como os soberbos, aqueles que acreditam que podem fazer tudo sozinhos, são atingidos”. O Papa voltou seus pensamentos para Micol, filha de Saul. Uma mulher, recordou, “que não era estéril, mas era soberba, e não entendia o que era louvar a Deus”, ao contrário, “ria do louvor”. “E foi punida com a esterilidade”:
“A humildade é necessária para a fecundidade. Quantas pessoas acreditam serem justas, como ela, e no fim são pobrezinhas. A humildade de dizer ao Senhor: ‘Senhor, sou estéril, sou um deserto e repetir nestes dias as belas antífonas que a Igreja nos faz rezar: ‘ Ó filho de Davi, ou Adonai, ou Sabedoria, ou raiz de Jesse, ou Emmanuel..., venha nos dar vida, venha nos salvar, porque só Tu podes, eu não posso!’ E com esta humildade, a humildade do deserto, a humildade de alma estéril, receber a graça, a graça de florescer, de dar frutos e dar vida”.